domingo, 22 de fevereiro de 2009

Carta aberta de um produtor em apoio ao Pastoreio Racional Voisin

20/2/2009
Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva,
Excelentíssima Ministra Chefa da Casa Civil, Dilma Vana Rousseff;
Excelentíssimo Ministro de Meio ambiente, Carlos Minc Baumfeld;
Excelentíssimo Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel;
Excelentíssimo Ministro da Educação, Fernando Haddad. Muito se comenta em todas as camadas sociais, da necessidade de melhor criar uma conscientização nos brasileiros para a preservação do meio ambiente, especialmente, da Amazônia Legal. De fato, a conscientização de um povo é algo necessário e salutar. Ancorado nessa premissa, quero expor o seguinte, caríssimos senhores: segundo dados da EMBRAPA, dos 180 milhões de ha pastagens de nosso Solo Pátrio, mais de 50% estão em processo de degradação, erosão e desertificação. Em Rondônia, a EMBRAPA confirma esses números com uma agravante: cerca de 20% das áreas com pastagens formadas no passado já foram abandonadas. Apesar dessas condições, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um rebanho de bovinos que somou 205,9 milhões de cabeças em 2007, afirmando também, que a agropecuária é a atividade que registrou maior crescimento em volume (4,5%) entre 2005 e 2006, em relação à participação relativa no total do valor adicionado do PIB - Produto Interno Bruto. É, portanto, um aspecto que merece atenção. Ocorre, porém, que a recuperação das pastagens degradadas, segundo a EMBRAPA, EMATER, USP-Esalq e UFV (Universidade Federal de Viçosa), os maiores expoentes na área de pastagens dentro do Território Nacional, é por meio de calagem e adubação, e, em muitos casos, aração e novo plantio. Obviamente, os produtores descapitalizados em mais de 40% segundo a Fundação Getulio Vargas, não se atrevem a fazer as tais reformas em seus pastos. Assim, o círculo vicioso se fecha e cresce cada vez mais.
A solução para o impasse existe. Já é aplicada com êxito em muitos estados do Brasil, mas especialmente, no Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. A solução tão festejada por quem a aplica, é o Pastoreio Racional Voisin. O PRV é uma medida de fácil compreensão e aplicação pelos pecuaristas. É científico, definitivo, diferente, de baixo custo, limpo, ecológico, sustentável, não usa calcário e, principalmente: não recorre à utilização de caríssimos e importados adubos de síntese química.
Em Santa Catarina a UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, já implantou 430 projetos de Pastoreio Racional Voisin. Essas 430 propriedades já com Manejo Ecológico das Pastagens nos moldes de Voisin, representam 15% de todas as pastagens desse Estado. É, portanto, louvável, esse imenso e brilhante trabalho de sustentabilidade que a UFSC está fazendo junto aos pecuaristas.
No Rio Grande do Sul, o engenheiro Nilo Ferreira Romero, pioneiro do sistema PRV no Brasil, produz há 45 anos em suas duas fazendas, em Bagé e em Candiota, 8 vezes mais que seus vizinhos. Faz tudo isso sem uma gota de calcáreo, adubos químicos, venenos, fogo, aração, reformas, etc. Usa apenas o Pastoreio Racional Voisin, esse mesmo que o MMA e a Embaixada da Itália no Brasil está divulgando na Amazônia Legal por meio do Programa Amazônia sem Fogo e GESTAR . Dom Nilo Romero é o melhor exemplo do Brasil e provavelmente do mundo, em termos de pastagens lucrativas e sustentáveis. É um homem que já recebeu medalha de honra do Ministro da Agricultura. Mas isso para o Brasil é muito pouco. Dar uma medalha para o Pioneiro Nilo e não tornar obrigatório nas Universidades Públicas o belíssimo trabalho que o Professor Doutor Luiz Carlos Pinheiro Machado faz na UFSC ao divulgar entre os pecuaristas essa mesma técnica, é um ato pouco sábio. Entre todas as Universidades e Faculdades Públicas Brasileiras, apenas a Universidade de Santa Catarina, a Universidade de Passo Fundo e a Universidade de Bagé ministram aulas de PRV em seus cursos de Agronomia e Zootecnia.
O PRV é uma tecnologia que permite a tão procurada sustentabilidade: dobra e até triplica a capacidade de produção das pastagens; não usa o fogo; pode ser trabalhado em meio as árvore nos pastos; produz carne e leite orgânicos e pode ser aplicado em todas as escalas (propriedades pequenas, médias e grandes). Para ilustrar essa questão da escala, basta dizer que no Mato Grosso do Sul, existe uma fazenda de 10.000,00ha toda sistematizada com o Manejo Racional Voisin. Existem nesse estado, outras com mais de 1.000,00ha usando o mesmo sistema de manejo. Já no RS, PR e SC, existem pequenas granjas leiteiras de apenas 1,00ha bem como propriedades de mais de 200,00ha sistematizadas. É bom ressaltar, caríssimos senhores, que muitas famílias em Santa Catarina, em decorrência dos prejuízos, estavam dispostas mesmo a deixar a lida do campo. Mas com o PRV, revitalizaram suas propriedades e permaneceram em suas terras. Com isso, não inflaram ainda mais, as fileiras de "pobres urbanos".
Infelizmente Presidente Lula, o Brasil é um Pais onde a máquina pública, por tão grandiosa que é, às vezes trabalha em conflito. O Governo trabalha contra o próprio Governo, vejamos: observe por gentileza Senhor Presidente, que a UFSC está divulgando e implantando o PRV há quase uma década com muito sucesso. Observe também, que o PT, o MST e o INCRA, usam exitosamente em alguns dos seus assentamentos a tecnologia do PRV. O MMA - Ministério do Meio ambiente, também preconiza por meio do Programa Amazônia Sem Fogo, a utilização dessa tecnologia. O Ministério do Desenvolvimento Agrário, também em sua página fazem comentários positivos. Mas infelizmente, como já disse, o Governo joga contra si mesmo, pois alguns Escritórios da EMATER, parte da EMBRAPA, a USP/Esalq, a UFV e todas as Escolas Técnicas Federais, que são os maiores divulgadores brasileiros de técnicas de manejo dos pastos, não recomendam o uso de tal sistema. Os resultados dessa falta de aplicação e divulgação maciça do PRV são mais de 50 milhões de pastagens degradas em todo o Território Nacional.
Dessa feita, Excelentíssimo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para mudar tão nefasto quadro, julgamos ser de bom alvitre, que a exemplo da UFSC, todas as Universidades Públicas Brasileiras, Estaduais ou Federais, bem como as Escolas Técnicas Federais, deveriam ter o Pastoreio Racional Voisin como disciplina obrigatória nos cursos de Agronomia, Zootecnia e Técnico Agrícola. A EMBRAPA, também deveria acrescentar essa tecnologia no rol de suas recomendações, em todo o Território Nacional. Do mesmo modo, todas as EMATERs deveriam ter a bandeira do PRV em suas unidades como uma rotina diária, fazendo e implantando projetos dessa natureza em todos os seus escritórios. É, portanto, imperioso, imprescindível e indeclinável que, o PRV seja uma recomendação oficial dentro do próprio Governo. Desta sorte, sem querer sem simplista, acredito que com um só ato, a situação pode ser resolvida. Basta uma simples Medida Provisória ou outra medida adequada determinando a inclusão do PRV na grade curricular dessas Entidades Públicas de Ensino Agronômico. Creio que o mesmo vale para as EMATERs e EMBRAPA. Com o Pastoreio Racional Voisin dentro do Governo, de forma oficial e não fragmentada como vemos no momento, a cara do Brasil Rural em poucos anos mudará para bem melhor.
Atenciosamente,
Eduardo Cardoso do PradoTécnico de Segurança do Trabalho


Fonte: Jurandir Melado.

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
Fundador da ONG MEAM neste município e em outros, desenvolvendo atividades no Rio Paraíba do Sul e Parque Estadual do Desengano.