Eloy F. Casagrande Jr., PhD – eloy.casagrande gmail.com - Coordenador do Escritório Verde, Universidade Tecnológica Federal do Paraná
O anúncio da candidatura de Marina Silva pelo Partido Verde para as eleições presidenciais de 2010, no cenário atual da emporcalhada política brasileira, se iguala a sensação que cidadãos de todo o mundo tiveram ao ver Barack Obama vencendo Hillary Clinton na corrida democrata para concorrer a presidência dos Estados Unidos. Um sopro de modernidade, de mudança radical, de substituição do velho, mofado e decadente modelo de governabilidade. Em 2002, tivemos Luís Ignácio da Silva rompendo com a política viciada até então comandada por partidos mais conservadores. Entre acertos e erros Lula conseguiu que o povo o aprovasse como o presidente que trouxe mais esperança para um Brasil sofrido. Mas o tempo passa e para muitos a administração do Partido dos Trabalhadores (PT) caiu na armadilha do comodismo e das benévolas que o poder traz. Os escândalos que vão de dinheiro na cueca a sanguessugas, as alianças políticas sem a ética que o velho PT pregava, a falta de uma administração moderna que resolvesse o problema crônico da educação e da saúde, foram pouco a pouco apagando o brilho da estrela vermelha! Não bastou o PT ser o partido do Século 21, pois parece mesmo que parou no tempo, se igualando aos outros grandes partidos! Com o desgaste de seus velhos ícones queimados pelos escândalos, tentam lançar a candidatura da Dilma Rousseff, que não consegue incendiar nem mesmo os mais fervorosos petistas. Mesmo com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) debaixo do braço, Dilma não consegue mostrar-se como uma líder carismática. Marina Silva, como Ministra do Meio Ambiente e fiel ao seu ideal de uma política de sustentabilidade para o Brasil, foi atropelada pela ex-guerrilheira do Araguaia. Talvez por que Marina não é de guerra, mas busca o consenso, a paz. A historiadora, ex-seringueira e discípula de Chico Mendes, acostumada com a luta pelos “empates”, a tática de ocupação não violenta da floresta ameaçada de ser derrubada, não quis o confronto direto com Dilma. Ao invés disto, optou por se retirar dignamente de um governo que não tem o desenvolvimento sustentável na sua agenda de prioridades. Para Dilma, os licenciamentos ambientais têm sido um “entrave”, um “atraso”, as obras do PAC. Para Marina, são medidas necessárias para que grandes movimentações de terra, desmates, desvios de rios, destruição da biodiversidade, entre outros impactos, não destruam ainda mais o pouco que resta da natureza brasileira. Isto não é ser contra o desenvolvimento, é sabedoria daqueles que já aprenderam que somente podemos criar riqueza protegendo nossos recursos naturais. Com estes princípios, Marina também já não tinha mais espaço no PT, que, como o governo, não tem uma política ambiental objetiva e eficaz. É bem verdade que não temos um Partido Verde forte. A idéia inicial de meados dos anos 80 era boa, mas ao longo dos anos se perdeu e o partido sofre dos mesmos males que os outros. Como todo nanico busca alianças para chegar ao poder nem sempre “verdes”, tem em suas fileiras escudeiros verdes de última hora e não consegue convencer o eleitorado de suas boas intenções. Talvez a entrada de Marina também sirva para renovar o partido, para que este possa encontrar sua verdadeira vocação alternativa e não se afundar nas tentações da política de oportunismo. Marina Silva tem a chance de provar que seu programa, assim como seu novo partido não são de uma bandeira só, que ambos têm um projeto para um Brasil carente de sustentabilidade na sua mais completa definição: social, econômica e ambiental. Que esta bandeira seja um antídoto a serra (ou Cerra!). Quem sabe a fala mansa e de bom senso de Marina possa convencer o povo brasileiro de que investimentos em saneamento, em uso de madeira de manejo sustentável, em produção de alimentos orgânicos, em energias renováveis, em tratamento adequado de resíduos, em gestão ambiental que reduza emissão de carbono, também geram empregos e renda. Quem sabe não esteja na hora de termos uma nova Silva no poder, nossa Obama de saias, a cara!.
Fonte:http://www.portaldomeioambiente.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1371
Nenhum comentário:
Postar um comentário